Estudos
Atuação do Psicólogo na Terapia Intensiva
6 de setembro de 2017

atuação dos psicólogos Dia 29 de agosto a coordenadora do departamento de Psicologia da Somiti, Tárcia Dutra, debateu com alunos do curso para residentes e especializandos em medicina intensiva (CREMI) temas importantes sobre vigilância hospitalar, segurança do paciente e do trabalhador.

Ela ressaltou que são abordagens relevantes e pouco discutidas com os acadêmicos e com os profissionais em atividade no hospital.

Confira a entrevista completa com a psicóloga.

Qual o papel do psicólogo na terapia intensiva? 

T.D.– Penso que o papel do psicólogo na terapia intensiva é fundamental. Ele é um elo entre a família e a equipe, tendo como eixo central o cuidado ao paciente. O trabalho para psicólogos iniciantes em terapia intensiva é algo que gera angustia. Ele pode não saber o que fazer. Os demais membros da equipe também não sabem qual é o fazer do psicólogo. Um exemplo: como psicóloga, cheguei a uma UTI às 7 horas da manhã, para cobrir férias de uma colega que só trabalhava à tarde. A plantonista chegou, me apresentei, e ela me perguntou: “o que você vai fazer aqui? Atender delirium?”. Não respondi. Visitei cada leito, olhei cada paciente, observei, li os históricos e acompanhei de perto os que estavam acordando, oferecendo informações para ficarem organizados e não agitarem.

O psicólogo é valorizado no seu ambiente de trabalho?

T.D.– Nas equipes que trabalhei foi possível perceber a valorização profissional. Mas ainda é um ponto que precisa ser muito discutido. A escuta e as intervenções da psicologia requerem tempo (lógico), disponibilidade e inclui gerenciar diversas questões que não são simples e até desconhecidas.

Acredito que para alcançar a valorização o profissional tem que estar junto dos demais membros da equipe. Ter uma boa escuta e saber processar diversos conhecimentos. A formação universitária é deficiente em fornecer bagagem aos psicólogos. Ser psicólogo exige conhecimentos e manejos de diversas habilidades, que implicam estudo e formação permanente. Além disso, o trabalho pessoal terapêutico, psicanalítico, humanista ou de outras abordagens é imprescindível. A escuta apurada e a  empatia são itens indispensáveis.

Como se dá na prática a atuação desse profissional?

T.D.– Hoje temos psicólogos em várias UTIs, mas ainda são incipientes as ações e o número de profissionais é pequeno para as necessidades de intervenções. Penso que é necessário o psicólogo sistematizar suas atividades, envolvendo o atendimento clínico, o ensino e a pesquisa.  Trabalhar com indicadores criados por ele próprio. Necessita entender de gestão e de custos, mostrando que suas intervenções contribuem para a qualidade da atenção em saúde. No hospital, o profissional precisa modificar conceitos ligados à profissão. Deve assegurar sua autonomia profissional, analisar a demanda psicológica hospitalar e propor ações para atendê-la independente da natureza da instituição e do lugar que a psicologia ocupa na hierarquia.

Quais as dificuldades?

T.D.– Quando o profissional se reconhece como produtor de um trabalho significativo em equipe, passa a verificar o resultado das intervenções psicológicas e o contexto do trabalho muda. A sinergia melhora o ambiente e os conflitos podem ser usados como crescimento pata todos. O psicólogo precisa desenvolver sua identidade enquanto membro da equipe, agregar novos conhecimentos e usar suas intervenções com respaldo técnico e científico. Além da clínica, o ensino e a pesquisa nesse campo precisam crescer. Em nossa conjuntura de trabalho, desenvolvemos poucos estudos e pesquisas.

O que o profissional deve fazer para encontrar um ‘lugar ao sol’? 

T.D.– Se capacitar, estudar e produzir trabalhos científicos baseados em evidências. Participar de entidades científicas. A psicologia é uma ciência, tem teorias fundamentadas e existem estudos importantes sendo realizados, como por exemplo, na Dinamarca, com psicólogos na simulação realística. Nesse caso, esse é um campo a ser explorado: “Psicologia da simulação, psicologia dentro da simulação e contribuições da psicologia para a pesquisa dessa metodologia”. O psicólogo também precisa evitar expectativas equivocadas com relação a sua atuação.

Gostaria de indicar uma leitura? 

T.D.– Os livros da psicologia hospitalar são diversos, merecem ser estudados. Vou indicar um atual, de autores mineiros: “Psicologia, Saúde e Hospital: contribuições para a prática profissional”, organizado pela Liliane Santos, Eunice Miranda e Eder Nogueira.

Gostaria de indicar um filme? 

T.D.– Sou apaixonada com as artes em geral. O cinema tem filmes fantásticos mostrando a condição humana. Tenho uma lista enorme, mas indicarei alguns: ‘Um homem chamado Ove’, ‘Sonhos’, ‘Viver’, ‘Um anjo em minha mesa’, ‘Amor’ e ‘Cerejeiras em flor’.

Por que é importante o curso para residentes e especializandos oferecido gratuitamente pela Somiti?

T.D. Uma observação interessante do curso da Somiti é ter a participação de diversos profissionais (além da medicina). Penso que algumas aulas interativas são importantes, pois para a atuação no hospital o diálogo será objeto de trabalho. A comunicação será o eixo central do cuidar. É preciso demarcar que o trabalho no hospital é perpassado por diversos profissionais visíveis e invisíveis. As trocas de saberes serão estimulantes e no bate-papo promove-se a capacidade de escutar o saber do outro, quando se estiver em equipe, sem acreditar que esse saber é único e dominante. Acredito que eles se surpreendem com o conteúdo, quando o tema não é a doença para o qual há um saber instituído, concreto e com antibióticos a serem usados. É importante também provoca-los com perguntas, falar temas diversos que buscam proporcionar uma reflexão.

Alunos no Cremi, curso oferecido gratuitamente pela Somiti às terças-feiras.

A Tárcia ainda indicou algumas referências científicas adicionais relacionadas ao tema para quem estiver interessado em aprofundar os conhecimentos sobre o assunto. São elas:

  1. BRASIL.Ministério da Saúde. Protocolo das ações de Vigilância Sanitária. Acessado em 22 de out 2016. Disponível em:http://www.anvisa.gov.br/hotsite/pdvisa/protocolo_acao.pdf.
  2. Portaria nº529, de 1ºde abril de 2013 – Institui o programa nacional de segurança do paciente (PNSP). Acessado em: 17 ago 2017. Disponível em: <portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/…/seguranca-do-paciente>.
  3. BRASIL. Resolução de Diretoria Colegiada, RDC 36 DE 25 de julho de 2013 – Institui ações para a segurança do paciente em serviços de saúde e dá outras providências. Acessada em 22 de out 2016. Disponível em: <portal.anvisa.gov.br/legislacao1>.
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente / Ministério da Saúde; Fundação Oswaldo Cruz; Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. Acessado em 17 ago 2017. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/documento_referencia_programa_nacional_seguranca.pdf>.
  5. DUARTE, Tássia de Lima et al . Repercussões psicológicas do isolamento de contato: uma revisão. Psicol. hosp. (São Paulo),  São Paulo ,  v. 13, n. 2, p. 88-113, ago.  2015. Acessado em  06 set.  2017.  Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-74092015000200006&lng=pt&nrm=iso>.
  6. BRASIL. Ministério da Saúde. Segurança do Paciente.  Acessado em 17 ago 2017. Disponível em <portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/…/seguranca-do-paciente>.

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